Educadores e educadoras precisam acreditar na
possibilidade de mudança. Entender que a educação, por ser uma forma de
intervir no mundo, deve possibilitar o exercício da compreensão crítica da
realidade a fim de atender aos interesses da classe dominada. Se posicionar a
favor dos oprimidos significa estar inserido na luta pela libertação dos
indivíduos e/ou das classes sociais, significa assumir politicamente uma
posição perante a formação de uma sociedade mais justa e humanizada.
A escola precisa refletir o momento histórico que
estamos atravessando, considerando a diversidade como característica do sujeito
em processo de constante transformação, a fim de oferecer uma educação de
qualidade para todos, procurando, assim, superar os obstáculos impostos à
inclusão que acontecem devido à resistência de muitos em aceitar o outro com
suas peculiaridades. Neste sentido, diz Freire:
Aceitar e respeitar a
diferença são uma dessas virtudes sem o que a escuta não se pode dar.
Discrimina-se o menino ou menina pobre, a menina ou o menino negro, o menino
índio, a menina rica; se discrimino a mulher, a camponesa, a operária, não
posso evidentemente escutá-las e se não as escuto, não posso falar com eles,
mas a eles, de cima para baixo. Sobretudo, me proíbo entendê-los. Se me sinto
superior ao diferente, não importa quem seja, recuso-me escutá-lo ou escutá-la.
O diferente não é o outro a merecer respeito é um isto ou aquilo, destacável ou
desprezível. (FREIRE, 2002, p. 136).
O processo de ensino e aprendizagem do (a) aluno (a)
se dá através das interações sociais ocorridas dentro do ambiente escolar.
Deste modo, entendemos a relação educador-educando como sendo de fundamental
importância neste processo. Essa interação pressupõe um querer-bem aos
educandos e educandas sem medo de expressar sua afetividade.
A diversidade é muito mais do que o conjunto das
diferenças. Ao entrarmos nesse campo, estamos lidando com a construção
histórica, social e cultural das diferenças a qual está ligada às relações de
poder, aos processos de colonização e dominação. Portanto, ao falarmos sobre a
diversidade (biológica e cultural) não podemos desconsiderar a construção das
identidades, o contexto das desigualdades e das lutas sociais.
A escola inclusiva direciona-se para um ensino que,
além de reforçar os mecanismos de interação solidária e os procedimentos
cooperativos, auxilie o ser humano a se ver e se perceber como parte de um todo
que independe de suas características físicas. A inclusão diz respeito a todos
os alunos, e não somente a alguns. Ela envolve uma mudança de cultura e de
organização da escola para assegurar acesso e participação para todos os alunos
que a frequentam regularmente e para aqueles que agora estão em serviço
segregado, mas que podem retornar à escola em algum momento no futuro.
A inclusão não é a
colocação de cada criança individual nas escolas, mas é criar um ambiente onde
todos possam desfrutar o acesso e o sucesso no currículo e tornarem-se membros
totais da comunidade escolar e local, sendo, desse modo, valorizados. (MITTLER,
2003, p. 236)
A inclusão escolar é uma realidade e, como tal,
merece ser encarada de forma contextualizada no cotidiano escolar. A proposta
de uma educação inclusiva é muito maior do que somente matricular o indivíduo
na escola comum, implica dar outra lógica à escola, transformando suas
práticas, suas relações interpessoais, sua formação, seus conceitos, pois a
inclusão é um conceito que emerge da complexidade, e como tal, exige o
reconhecimento e valorização de todas as diferenças que contribuiriam para um
novo modo de organização do sistema educacional (DRAGO 2007).
A diversidade indaga o currículo, a escola, as suas
lógicas, a sua organização espacial e temporal. No entanto, é importante
destacar que as indagações aqui apresentadas e discutidas não são produtos de
uma discussão interna à escola. São frutos da inter-relação entre escola,
sociedade e cultura e, mais precisamente, da relação entre escola e movimentos
sociais. Assumir a diversidade é posicionar-se contra as diversas formas de
dominação, exclusão e discriminação. É entender a educação como um direito
social e o respeito à diversidade no interior de um campo político.
REFERÊNCIAS
BIBLIOGRÁFICAS
BRASIL.
Declaração de Salamanca e linha de ação sobre necessidades educativas
especiais. Brasília: Corde, 1994.
DINIZ,
Margareth; VASCONCELOS, Renata Nunes (Orgs.). Pluralidade cultural e inclusão
de professores e professoras. 1. ed. Belo Horizonte, MG: Formato, 2004.
MANTOAN, Maria
Teresa E. A solicitação do meio Escolar e a construção das estruturas da
inteligência no deficiente mental: uma interpretação fundamentada na teoria de
conhecimento de Jean Piaget. Tese de doutoramento. Campinas: UNICAMP/
Faculdade de Educação, 1991
.
STAINBACK, Susan
e STAINBACK, William. Trad. Magda França Lopes. Inclusão – Um guia para
educadores. Porto Alegre: Artes Médicas Sul, 1999.