Numa
sociedade letrada, o objetivo do ensino deve ser o de aprimorar a competência e
melhorar o desempenho linguístico do estudante, tendo em vista a integração e a
mobilidade sociais dos indivíduos, além de colocar o ensino numa perspectiva
produtiva. O ensino da leitura e da escrita deve ser entendido como prática de
um sujeito agindo sobre o mundo para transformá-lo e, para, através da sua
ação, afirmar a sua liberdade e fugir à alienação.
É
através da prática que desenvolvemos nossa capacidade linguística. Conhecer
diferentes tipos de textos não é, pois, decorar regras gramaticais e listas de
palavras. No rap Estudo Errado, Gabriel, o Pensador, diz com propriedade:
“Decorei, copiei, memorizei, mas não entendi. Decoreba: este é o método de
ensino. Eles me tratam como ameba e assim eu num raciocino”. É lamentável que,
no Brasil, a escola, lugar fundamental para a pessoa desenvolver sua capacidade
de linguagem, continue limitando-se, na maioria das vezes, a um ensino
mecânico. Na perspectiva do letramento, a leitura e a escrita são vistas como
práticas sociais. Vargas (2000: 7-8) apresenta uma distinção entre ledores e
leitores muito importante quando se fala de alfabetização e de letramento.
Segundo a autora, [...] A estrutura educacional brasileira tem formado mais
ledores que leitores. Qual é a diferença entre uns e outros se os dois são
decodificadores de discursos? A diferença está na qualidade da decodificação,
no modo de sentir e de perceber o que está escrito. O leitor, diferentemente do
ledor, compreende o texto na sua relação dialética com o contexto, na sua
relação de interação com a forma.
O
leitor adquire através da observação mais detida, da compreensão mais eficaz,
uma percepção mais crítica do que é lido, isto é, chega à política do texto. A
compreensão social da leitura dá-se na medida dessa percepção. Pois bem, na
medida em que ajudo meu leitor, meu aluno, a perceber que a leitura é fonte de
conhecimento e de domínio do real, ajudo-o a perceber o prazer que existe na
decodificação aprofundada do texto.
O
objetivo de se ensinar a ler e escrever devem estar centrados em propiciar ao
estudante a aquisição da língua portuguesa, de maneira que ele possa
exprimir-se corretamente, aconselhado pelo professor por meio de estímulos à
leitura de variados textos, nos quais serão verificadas as diferentes variações
linguísticas, tornando um poliglota em sua língua, para que, ao dominar o maior
número de variantes, ele possa ser capaz de interferir socialmente nas diversas
situações a que for submetido.
A
educação, sendo uma prática social, não pode restringir-se a ser puramente
livresca, teórica, sem compromisso com a realidade local e com o mundo em que
vivemos. Cabe ao professor mostrar aos alunos uma pluralidade de discurso.
Trabalhar com diferentes textos possibilita ao professor fazer uma abordagem
mais consciente das variadas formas de uso da língua. Assim, o professor pode
transformar a sua sala de aula num espaço de descobertas e construção de
conhecimentos. Também intervém como variável significativa o valor que o
docente atribui aos materiais enquanto recursos didáticos. Trabalhar com
gêneros textuais variados nos permite entender que a escolha de um gênero leva
em conta os objetivos visados, o lugar social e os papéis dos participantes.
Daí decorre a detecção do que é adequado ou inadequado em cada uma das práticas
sociais. Diante disso, na medida em que o educador tomar consciência de sua
posição política, articulando conteúdos significativos a uma prática também
significativa, desvinculando-se da função tradicional de mero transmissor de
conteúdos e, consequentemente, de mero repetidor de exercícios do livro
didático estará transformando o ensino da leitura e da escrita.
Um
educador como mediador, partindo da observação da realidade para, em seguida,
propor respostas diante dela estará contribuindo para a formação de pessoas
críticas e participativas na sociedade. Assim, uma prática significativa
depende do interesse do professor em planejar as suas aulas com coerência,
visando à construção de conhecimentos com os alunos. É importante destacar que
letrar não é apenas função de professor de Língua Portuguesa. Em todas as áreas
de conhecimento, em todas as disciplinas, os alunos aprendem através de
práticas de leitura e de escrita: em História, em Geografia, em Ciências, mesmo
em Matemática, enfim, em todas as disciplinas, os alunos aprendem lendo, interpretando
e escrevendo.
Letrar
é função de todos os professores, mesmo porque, em cada área de conhecimento, a
escrita e a leitura têm peculiaridades, que só os professores que nela atuam é
que conhecem e dominam. O educador reeducando-se e transformando-se, deixará de
vez "suas tarefas e as funções da educação sob a ótica das elites
econômicas, culturais e políticas das classes dominantes", em direção a
uma prática libertadora. Assim, o ensino deixará de ser um martírio, para se
tornar num processo de construção permanente de conhecimentos. O educador deve
estimular no aluno o pensamento crítico, de modo que ele possa atuar na
sociedade como um indivíduo pensante, questionador. Enfim, nos dias atuais, o
conhecimento é uma das "ferramentas" para se conquistar oportunidades
de trabalho e renda. Assim, aos professores, cabe a responsabilidade de fazer
com que seus alunos se interessem pela leitura e pela escrita.
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